quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Filme“MATRIX” E A ALEGORIA DA CAVERNA


Trabalho de Filosofia : ) Gostei de fazer, e resolvi postar ...

No livro “A República”, Platão conta a Glauco o famoso mito ou alegoria da caverna, para ilustrar a ignorância humana. Neste mito, alguns homens encontram-se com braços e pernas acorrentados, incapazes de se mover ou sair dali. Este “estar acorrentado” é uma metáfora utilizada por Platão para falar do homem que se encontra preso à ignorância, vendo apenas uma parte do mundo, como se esta parte fosse o todo. Esses homens acorrentados vivem numa verdade ilusória, quer dizer, acreditam que as sombras das coisas que vêem são as pessoas e os objetos do mundo real.

Num determinado momento do mito, um destes homens acorrentados sai da caverna, então, quando vê o mundo, tudo para ele é novo, desconhecido, afinal, este homem vivia na escuridão, ou na ignorância das coisas e pessoas, conhecia apenas as sombras destas. A luz do sol atrapalha a visão destas coisas novas; seus olhos doem, pois ele nunca tinha estado em contato com a luz solar. No mito da caverna, o sol vem a ser uma metáfora para o saber, o conhecimento. No momento em que o homem consegue ver o sol, ele é capaz de pensar, refletir sobre as coisas que o cercam, torna-se um filósofo. Ao mesmo tempo em que o sol clareia, ilumina, este homem está acostumado à escuridão da caverna. É mais cômodo voltar para a escuridão, do que adaptar-se ao “novo mundo”.

Este homem, ao descobrir tantas coisas novas, certamente fica tentado à mostrar suas descobertas aos antigos companheiros. Entretanto, é muito provável que estes homens não acreditassem, pois teriam dificuldades em aceitar uma nova realidade, que não esta a qual estão habituados.

Platão faz ainda uma importante observação, de que, possivelmente surgisse a intenção por parte dos antigos companheiros, de matar este homem que vem trazer a eles uma nova forma de ver as coisas, uma nova realidade, tal qual foi com Platão, ao ser condenado a morte por “incomodar” os cidadãos gregos com suas perguntas filosóficas.

O filme “Matrix”, de 1999 foi baseado no mito da caverna de Platão. O filme conta a estória de um futuro em que máquinas e homens disputam o domínio do planeta. As máquinas “cultivam” seres humanos, pois eles são fonte de energia. A mente desses humanos fica aprisionada num programa virtual chamado “Matrix”, que simula a realidade. Entretanto, há alguns humanos ainda livres, como os personagens Morpheus e Trinity. Estes escolhem Neo (um pirata eletrônico, capaz de invadir e criar programas, e capaz de competir com a Matrix) para tirá-lo da Matrix e inseri-lo no “mundo real”.

Tal como na alegoria da caverna, no início é difícil para Neo aceitar esta “nova realidade”. Fica tentado a retornar para a escuridão, para a ignorância, ou seja, para a Matrix. Os olhos do homem que sai da caverna doem com a luz do sol, pois ele nunca havia tido contato com a luz solar. No filme, os olhos de Neo doem, porque segundo Morpheus, ele nunca os havia realmente usado.

Fazendo uma comparação do filme “Matrix” com a alegoria da caverna, chegamos a conclusão de que a matrix seria o mesmo que a caverna no mito de Platão, que é nada mais que uma metáfora para a ignorância do homem.

Antes de tirar Neo da matrix, Morpheus acredita que ele seja uma espécie de escolhido, pela capacidade que Neo demonstrava de questionar, mesmo quando estava “dentro” da matrix. De certa forma, Neo é como os filósofos, que procuram saber, buscam o conhecimento. Isso fica explícito em certos diálogos do filme:

- “Eu sei porque você está aqui, Neo. Eu sei o que você tem feito...Porque você mal dorme, porque você vive sozinho, e porque noite após noite, você se senta no computador. Você está procurando por ele. Eu sei, porque uma vez já procurei pela mesma coisa. E quando ele me encontrou, ele me disse que eu não estava realmente procurando por ele. Eu estava procurando por uma resposta. É a pergunta que nos guia, Neo. É a pergunta que trouxe você aqui.Você sabe a pergunta, assim como eu. (Trinity)

- O que é a Matrix? (Neo)

- A resposta está lá fora, Neo, e está procurando por você, e irá encontrá-lo quando você quiser”. (Trinity)

Com a ajuda de Morpheus, Neo descobre novas idéias, conhece matrix e todo o seu nível de conhecimento se eleva e segue desenvolvendo-se. Na alegoria, o homem ao sair da caverna também adquire novas idéias, descobre o que é a verdade, sai do mundo puramente sensível, onde apenas utiliza-se a capacidade de sentir as coisas, e entra para o mundo das idéias, racional, adquire a capacidade de pensar sobre as coisas.

O filósofo é alguém que se propõe a “sair da caverna”, alcançar a verdade e o conhecimento. Ele entende o quão difícil para a massa é sair da caverna, aceitar o novo, sair do comodismo do mundo puramente sensível, para entrar para o mundo das idéias. Entretanto, ele tenta mobilizar as outras pessoas a questionarem-se, a buscar a verdade e o conhecimento, tenta despertar nos outros o desejo de saber mais. Tanto Neo quanto o homem que sai da caverna tornam-se filósofos, pois são capazes de pensar sobre as coisas, passam a compreender e buscar a verdade.

Se pensarmos na atualidade, poderíamos dizer que a massa em geral, não se questiona, simplesmente limita-se a aprender, aceitando o que tem sido ensinado como verdade absoluta. Aceita o que o estado, a igreja, a moral, os “bons costumes” e a tradição nos indicam, convertendo-nos assim em homens “acorrentados” dentro da escuridão de uma caverna.

Portanto, o filme matrix e a alegoria da caverna de Platão nos mostram que a ignorância é algo que nos escraviza, nos aprisiona, limita nossos horizontes e não nos permite alcançar a verdade. E que também uma das maiores ignorâncias é a de não sabermos quem somos.